Foto: Reprodução/Portal UauáWeb
Ser vereador em Uauá não é tarefa simples. Muito além das
responsabilidades legais, como fiscalizar o uso do dinheiro público e
cobrar melhorias para a população, existe uma realidade dura e
silenciosa: a pressão do assistencialismo, que se tornou quase uma
exigência cotidiana.
Em muitos momentos, o vereador precisa assumir um papel que, na prática,
não deveria ser seu. A carência social e a falta de políticas públicas
eficientes tornam o representante legislativo uma espécie de “salvador
imediato”, chamado a resolver emergências que vão desde a compra de
remédios até a garantia de comida para famílias em dificuldade.
Há relatos que ilustram bem esse cenário. Em certa época, um vereador
precisou retirar o próprio bujão de gás — aquele que estava em uso em
sua casa — para socorrer um eleitor em necessidade.
Situações como essa,
embora humanas e compreensíveis diante da realidade local, mostram o
quanto o assistencialismo pesa e distorce o verdadeiro papel do cargo.
Além do gás, há quem recorra aos vereadores para comprar medicamentos,
ajudar com alimentação, resolver problemas de transporte, entre tantas
outras demandas. O coração fala alto, e a necessidade do povo também —
mas cada uma dessas ações consome tempo, recursos e energia que deveriam
ser dedicados à função principal: fiscalizar o erário público, cobrar
transparência, lutar por melhorias estruturais e garantir que o dinheiro
do povo seja bem aplicado.
O resultado é um ciclo difícil de romper.
O vereador, pressionado pela
urgência social, acaba assumindo uma função quase assistencial. O povo,
sem alternativas, continua dependente dessa ajuda. E o município perde
quando seu fiscalizador deixa de fiscalizar para ter que apagar
incêndios sociais que deveriam ser resolvidos pelo Estado.
A verdade é que o assistencialismo, embora nasça da necessidade, sufoca o
trabalho legislativo e impede que muitos vereadores exerçam plenamente
sua missão. E enquanto essa lógica não mudar, ser vereador em Uauá
continuará sendo um desafio que exige não apenas vontade política, mas
também força para enfrentar um sistema que, há anos, se apoia mais em
favores do que em políticas públicas eficazes.
REDAÇÃO: WWW.UAUAWEB.COM.BR